Reencontro com a voz

Esta noite de natal dou-me envolto num embrulho o direito de tombar
Livre de ressalvas
Que o cansaço pesa como o todo sobre o corpo
Que a saudade abriu feridas e a saúde tem-me feito enorme falta
Que a minha vida, por um motivo ou outro, toma sempre este rumo centrado e solitário para dentro de si

Este é o princípio do fim de meu primeiro quarto de vida
Recordo ciclos menores de ascensão e declínio
Como o pavão, a fênix, os poetas e os mortais
Marco o compasso e tenho no bolso o trunfo de um novo refrão
Sucumbirei, assim, sem medo
Rápido como some o Sol de um largo dia de trabalho

Não sei quanto custará, se tempo ou empenho
Eu vou sair do fundo do mar e da beira do abismo
E eu sei como é difícil começar tudo de novo
Mas eu quero tentar

Estive atento ao movimento peculiar desse mundo em que caí
Agora, de tudo o que vi e provei, farei opções
O que a vida não dá do que quero, talharei de meu punho
Quem eu quero por perto, para perto trarei
Se a tristeza é uma forma de egoísmo
Eu vou sair do meu umbigo

Que para o ano a casca dura sobre minha pele
Não mais se confunda com a apatia dos seres sem amor
Minhas escamas são recompensa de uma existência de riscos
Que estas segundas peles nos protejam dos amores vulgares
E nos tornem capazes de acessar o sublime

Para o ano eu me ergo e passo a olhar para cima
Para o ano um ano de existência corpórea
Para o ano a substância
Para o ano uma penugem nova
Direi adeus à velha ilha de Lacônia
Adeus, adeus. Você mudou, também mudei.

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